quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Brainstorming

Tipificação das técnicas pedagógicas

Esta secção pretende identificar as diversas técnicas pedagógicas existentes e descrever as suas principais características.

Técnica pedagógica significa estratégia, procedimento ou forma concreta de apresentar ou orientar as aprendizagens. As técnicas complementam-se e articulam-se entre si, de modo que não se podem utilizar isoladamente, tal como os métodos em que se integram. O critério de selecção fundamental será sempre a formulação de objectivos para a formação. Na previsão das técnicas a adoptar o formador deve sequenciá-las, permitindo situações diversificadas de formação, tendo em conta a sua maior eficácia quanto a resultados de aprendizagem.

Por vezes a implementação de determinadas técnicas pedagógicas confundem-se com o próprio método particularmente no caso dos métodos activos.

Esta parte está dividida nas diversas técnicas pedagógicas:

Os métodos activos em formação

O conceito de métodos activos designa um conjunto de métodos em que o formando é voluntário.

Nestes métodos, o formando é o sujeito da formação. Baseiam-se na actividade, na liberdade e na auto-educação. O formando aprende por descoberta pessoal, vivenciando a situação. O formando constrói a resposta adaptada à situação. A situação de aprendizagem é pouco estruturada e interactiva. O formador responsabiliza-se pela orientação e animação das situações e pela elaboração dos materiais pedagógicos necessários.

Os métodos activos caracterizam-se com base nos seguintes critérios:
  • a actividade - o formando aprende a partir da resolução de problemas, formula hipóteses, deduz e encontra uma solução;
  • a liberdade - o formando escolhe e tem livre iniciativa no percurso da aprendizagem, e nas actividades. A sua escolha é baseada nos significados que atribui à situação formativa;
  • a auto-educação - a pedagogia activa visa a autonomia do aprendente e o seu desenvolvimento pessoal e social.
A situação pedagógica é centrada nas actividades dos formandos, a relação é estabelecida com base nas interacções entre o formador e o grupo. A estrutura do raciocínio e os resultados da aprendizagem são da responsabilidade dos formandos.

Uma situação pedagógica activa depende das seguintes variáveis:
  • novos papéis para o formador - torna-se simultaneamente animador, participante, e observador. Assume-se como motor da acção pedagógica e conteúdo parcial dessa acção;
  • a relação individual e de grupo - o formando situa-se em relação ao formador e em relação ao grupo. As interacções estabelecem-se face a estes dois outros;
  • o conjunto espaço / tempo, no decurso da formação, assume-se em três dimensões - Externo ao grupo em formação (o formador informa-se sobre o que cada formando é, como vive fora deste momento);
  • Espaço / tempo na sala de formação (o formador deve estar atento às solicitações dos formandos e oferecer-lhes o que tem); Espaço /tempo simulado (o formador/animador desloca-se com o grupo em duas dimensões: a realidade e a ficção (a vida profissional / a formação).
  • o vivido - cada momento vivido é uma etapa para que a relação pedagógica seja imaginativa, motivante e criativa;
  • o mundo exterior - a formação deve estar ancorada na realidade profissional dos formandos.

O espaço pedagógico

Uma situação pedagógica activa é difícil de controlar pelo formador, pois ela é pouco estruturada. A arquitectura e o espaço assumem uma função na caracterização do clima de aprendizagem. Para que as aprendizagens se realizem centradas na livre troca de ideias, é necessário que o espaço permita realmente as interacções entre os participantes. Para promover uma verdadeira comunicação intergrupal os dispositivos em circulo ou em U são os mais adequados.

A utilização de metodologias activas de formação requer um domínio das técnicas de comunicação e dinâmica de grupos.

O método interrogativo

O método interrogativo consiste num processo de interacções verbais, dirigidas pelo formador, normalmente de tipo pergunta-resposta. O objectivo é a descoberta pelo formando dos conceitos ou conhecimentos a memorizar.

Características do método interrogativo

O método interrogativo baseia-se no princípio de que se aprende por aprender, mas só se aprende bem o que se compreendeu. Continuamos no campo das pedagogias autoritárias, mas a exigência de eficácia conduz à motivação dos formandos. A interrogação tanto pode ser utilizada na aprendizagem de saber-fazer como na de conceitos. Aplica-se ao conteúdo de uma exposição ou demonstração. Assumem um papel particular no método interrogativo a competência na elaboração de perguntas, os processos de raciocínio indutivo e ainda o modo como se organiza a aprendizagem por descoberta.

Como aplicar o método interrogativo

A observação espontânea é substituída pela observação planificada e reflectida, orientada por uma sequência de perguntas. As perguntas encadeiam-se por uma ordem lógica e rigorosa, incidindo cada pergunta sobre um ponto preciso.

O interrogatório
Baseia a sua táctica na detecção instantânea da realidade da sessão, através de perguntas emitidas pelo formador no sentido de fazer progredir a aquisição de conhecimentos.

A argumentação
A actividade é conduzida pelo formador que determina os objectivos e os temas da argumentação. Faz uma explicação sumária do conteúdo e proporciona os meios de informação para o estudo do tema ou do problema. Os formandos terão de encontrar argumentos para discutir com o formador.

O diálogo
Nesta modalidade foca-se geralmente um único tema. O formador lança o diálogo desfocando ou escamoteando a problemática ou o conteúdo. Solicita ao grupo em formação que analise ou dê opiniões sobre o tema exposto. Ao formador cabe formular as questões orientadoras do diálogo. Mas pode-se permitir um caminho erróneo para a discussão. No entanto, o formador é responsável pela condução do diálogo no sentido duma proposição válida.

O debate
Para a sua planificação deve seguir-se o mesmo processo da modalidade anterior. Mas, a sua aplicação exige como pré-requisito uma formação básica no tema ou temas a debater e também o conhecimento das técnicas de argumentação por parte dos participantes. Antes de iniciado o debate deve-se nomear um coordenador e um secretário. Estes têm como funções orientar as perguntas e registar as conclusões ou os pontos que permaneçam obscuros. O formador não deve permitir situações extremadas ou antagónicas. O objectivo central desta técnica é desenvolver capacidades de análise e crítica ou de julgamento de situações.

 

Tipo de perguntas no método interrogativo

O método interrogativo requer do formador uma grande competência na formulação de perguntas. Analisaremos os diversos tipos de perguntas a utilizar:
  • perguntas dirigidas à memória - são aquelas que implicam o relembrar de informação específica;
  • perguntas dirigidas ao raciocínio - são perguntas que levam o formando a pensar e a desenvolver a sua informação;
  • perguntas criativas - exigem do formando soluções novas e originais, a partir de dados fornecidos anteriormente;
  • perguntas pessoais - este tipo de perguntas suscita no formando a expressão de opiniões, sentimentos e valores pessoais. Esta classificação de perguntas baseia-se na Taxonomia de Objectivos Educacionais de Bloom. Estão também hierarquizadas por níveis de complexidade de operações cognitivas;
  • perguntas abertas - são aquelas perguntas cujas respostas se conseguem através de uma elaboração diferente de indivíduo para indivíduo. Podem ter uma ou várias respostas aceitáveis;
  • perguntas fechadas - são perguntas que apenas têm uma única resposta correcta à qual só se chega através de processos mentais semelhantes.

O método demonstrativo

O método demonstrativo baseia-se no conhecimento técnico ou prático do formador e na sua competência para exemplificar uma determinada operação técnica ou prática que se deseja repetida e depois aprendida. O formando deve realizá-la primeiro sob orientação e depois sozinho.

A natureza da informação recebida pelo formando é homoforma da emitida pelo mestre. O formador emite um saber (demonstração dum teorema, ou mesmo o exemplo duma reunião-discussão) e só esse saber será recebido. Se o formador emite um saber-fazer (virar uma peça ou uma conduta experimentada) é um saber-fazer que será recebido. Mas como não é suficiente explicar por palavras o que se pretende que se aprenda, é necessário mostrar. É preciso simultaneamente explicar e mostrar, associar explicação, demonstração e até ilustração, é nisto que basicamente consiste o método demonstrativo.

Motivar o interessado e prepará-lo
  • pô-lo à vontade;
  • definir o trabalho e saber o que o formando já conhece;
  • requerer o seu interesse pelo trabalho (tarefa, posto de trabalho...).
Apresentar o trabalho
  • explicar, mostrar, ilustrar, só uma fase importante de cada vez, numerando-as;
  • a instrução tem de ser feita lentamente, salientando-se os pontos-chave.
Ordenar tentativas de execução
  • obter, através de repetições sucessivas, a realização correcta da tarefa proposta.
Automatizar o formando na tarefa
  • o formando realiza a tarefa ou actividade sozinho, sabendo que pode solicitar ajuda ou esclarecimentos;
  • o formador deve, nesta fase, solicitar perguntas ao formando, controlando o seu desempenho, mas intervindo cada vez menos.
A utilização deste método é por vezes indispensável em certas aprendizagens de carácter técnico.

Como organizar uma sessão expositiva

O formador deve ter em conta o público alvo, os seus conhecimentos sobre o tema, motivações e capacidades.
Um outro aspecto refere-se às condições materiais:
  • a sala;
  • o ambiente;
  • o equipamento;
  • o mobiliário.
Finalmente, ter-se-á de prever os recursos didácticos auxiliares disponíveis. Na posse de todas estas informações cabe ao formador preparar a exposição:
  • seleccionando as informações a transmitir;
  • organizando a sequência de ideias;
  • identificando e/ou criando exemplos;
  • sumariando os tópicos da exposição.

A exposição

Os cognitivistas propõem-nos um modelo eficaz para desenvolver uma exposição:

A introdução
Na introdução, o formador esclarece os objectivos a atingir, cria os estímulos adequados à audição através de conselhos ou exemplos e, fundamentalmente, expõe o conteúdo mediante os "organizadores prévios".
Os "organizadores prévios" (Ausubel fala de "advance organizers") consistem em informações amplas e genéricas que servirão de pontos de ancoragem para ideias mais específicas que virão no decorrer da exposição.
Assim, a aprendizagem significativa existe sempre que haja um relacionamento do novo material com os elementos já estáveis da estrutura cognitiva, pois o processo de aprendizagem faz-se pela integração de novos conceitos em outros conceitos abrangentes. Introduzindo os "organizadores prévios", antes do conteúdo essencial, usando uma linguagem familiar, o formador facilita ao “auditório” as novas aprendizagens.

O corpo da exposição
A sequência da exposição deve seguir os seguintes princípios:
A diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa
  • o princípio da diferenciação progressiva propõe que se inicie a exposição pelos conceitos ou ideias mais gerais, os quais vão sendo diferenciados e especificados por ordem de complexidade. Na Psicologia Cognitiva, a aplicação desta ordem de princípios justifica-se por corresponder à maneira como o ser humano apreende factos não-familiares e representa o conhecimento. Além disso, o homem organiza o conhecimento de forma hierárquica, do mais inclusivo para o menos inclusivo. O Princípio da Reconciliação Integrativa consiste em explicitar as diferenças e semelhanças entre ideias e conceitos em contextos diferentes. Assim, previne-se o uso inadequado de termos múltiplos em realidades diversas ou a retenção de conceitos diferentes como idênticos.
Relações sequenciais, encadeamento e relações transitivas
O formador pode apresentar o conteúdo de modo sequencial:
  • Enunciação de uma série de factos.
  • Afirmação e definição do problema.
  • Critérios de resolução do problema.
  • Avaliação das soluções.
  • Decisão por uma solução.
  • Considerações acerca de outras soluções.
Outra maneira de apresentar o princípio das relações sequenciais consiste em o formador identificar uma ideia central e unificadora e depois excluir as ideias inconsistentes e de menor importância. O formador pode aplicar na sua exposição um outro princípio, o das relações transitivas. O objectivo da exposição consiste em pôr a descoberto a estrutura de organização dos conceitos, de modo a que os interlocutores tomem consciência dessa estrutura. O processo completa-se com a utilização de frases-chave que resumam as componentes da ideia ou conceito.

A exposição participativa

É desejável implicar os participantes na exposição e propor-lhes trabalho em grupo durante ou após o curso magistral, ou seja, a exposição.

Sugerimos uma série de técnicas que tornarão o uso do método expositivo mais interessante e eficaz:
  • pode utilizar um filme, como prelúdio ou durante a exposição, e pedir aos grupos de formandos que analisem as informações adquiridas;
  • distribua aos grupos uma lista de problemas ou questões-desafio, para que no final possam classificá-los pela importância ou acuidade;
  • proponha aos formandos que em díade formulem um problema, uma questão ou um comentário sugeridos pela exposição. A discussão que se segue servirá de feedback;
  • utilize adequadamente o momento das Perguntas-Resposta. Permitir-lhe-á verificar a memorização e a compreensão dos conceitos, corrigir os erros de compreensão e colmatar as lacunas. Uma das funções mais importantes desta técnica é permitir discutir novos conhecimentos e aplicá-los.

A conclusão

A conclusão servirá para resumir as ideias essenciais, pedir aos formandos que resumam o conteúdo, responder a dúvidas, indicar bibliografia ou restabelecer o conteúdo da exposição com os temas já abordados e novos. Pensamos ser útil acrescentar algumas instruções para facilitar ao formador a apresentação do método:
  • utilize audiovisuais e policopiados para sublinhar ou ilustrar a exposição;
  • treine a sua dicção e o modo de se apresentar em público. O vídeo e o gravador são auxiliares preciosos para a melhoria das suas capacidades de comunicação;
  • durante a exposição não leia nunca as suas notas, não perca o contacto visual com o auditório, não repita expressões idiomáticas;
  • seja entusiasta e enérgico e adeqúe a sua linguagem aos participantes mesmo que o assunto seja eminentemente técnico.

O método expositivo

O método expositivo é um método pedagógico centrado nos conteúdos.
Traduz-se na transmissão oral pelo formador de informação e conhecimentos ou conteúdos em que a participação do formando é diminuta. A estrutura, a sequência dos conhecimentos e o tipo dos conteúdos são definidos pelo formador.

Quando utilizar o método expositivo

Este método é por vezes útil em determinadas circunstâncias e a solução mais adequada aos objectivos de formação. A sua utilização pode verificar-se quando:
  • o formador tem necessidade de expor as suas ideias ao grupo;
  • a sessão expositiva é o meio mais prático e menos oneroso de fornecer a informação;
  • os conceitos devem ser explicados de maneira indutiva e o formador é o único a poder responder às questões dos formandos;
  • num curso cuja metodologia não assente neste método, breves sessões expositivas podem alterar o ritmo e despertar maior interesse dos participantes;
  • a sessão expositiva for a única forma de responder a questionários ou dúvidas dos formandos e ainda acrescentar informação;
  • o método for adequado aos seguintes objectivos;
  • motivação do auditório para um tema novo;
  • aquisição de conceitos;
  • directrizes para a execução de uma actividade;
  • reforço de informação;
  • a informação e os conhecimentos sobre um tema podem mudar tão rapidamente que a actualização para os potenciais formandos/auditório é mais eficaz se recorrermos a uma exposição oral.